04/03/2013 15h25
- Atualizado em
04/03/2013 17h50
Eles discutiram destinos da Igreja e meditaram em reunião pré-conclave.
Mas data do início da escolha do próximo Papa ainda não foi definida.
No primeiro dia reunidos, eles oraram, debateram e decidiram enviar uma mensagem a Bento XVI, que renunciou em 28 de fevereiro, após um pontificado de oito anos marcado por crises, criando uma situação praticamente inédita para a Igreja.
O primeiro encontro de cardeais durou cerca de três horas e meia, com meia hora de pausa de café, e teve a participação de 142 dos 207 cardeais, 103 deles votantes, segundo o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi.
O segundo, em que ocorreu uma das duas meditações obrigatórias no período, ocorreu à tarde.
O decano do Colégio Cardinalício, Angelo Sodano, fez uma saudação e lembrou da importancia do evento. Ele também propôs que os cardeais preparem uma mensagem, a ser enviada ao Papa Emérito.
Depois, houve o juramento, feito em conjunto e depois individualmente, o que tomou algum tempo, conforme previsto na Constituição Apostólica.
Eles prometeram manter em segredo o conteúdo das reuniões, mas isso não os impede de falar aos jornalistas sobre "questões da Igreja', segundo Lombardi.
O momento mais importante da primeira reunião ocorreu entre as 11h45 e 12h30 locais, segundo o porta-voz, quando ocorreram discussões gerais. Treze cardeais falaram.
Eles discutiram se vai haver reuniões de manhã e à tarde nos próximos dias.
Conforme esperado, não houve decisão sobre a data do conclave. Segundo o padre Lombardi, alguns cardeais estão com mais pressa para decidir a sucessão no Trono de Pedro, e outros com menos.
O porta-voz Lombardi não confirmou a informação de que um "falso bispo" tenha tentado entrado na congregação. Em tom jocoso, ele disse que todos os cardeais que viu "eram verdadeiros".
A segunda congregação ocorreu às 17h (13h de Brasília).
Ela teve uma meditação espitual presidida pelo padre Raniero Cantalamessa, segundo o monsenhor Antônio Catelan Ferreira, secretario do cardeal Dom Raymundo Damasceno. Em seguida, houve uma palestra do cardeal Valini, vigário-geral da Dioecese de Roma.
Os cardeais saíram da segunda congregação sem falar, em um clima muito diferente do do final da primeira congregação. Também não houve entrevista coletiva no Vaticano depois dela.
A terceira congregação deve ocorrer na manhã desta terça, e a seguinte, na manhã de quarta. O período da tarde deve ser reservado à meditação, à reflexão e ao descanso.
Os cardeais italianos Giovanni Battista Re, Crescencio Sepe e o esloveno Franc Rode foram escolhidos para, por um prazo de três dias, auxiliarem o cardeal camerlengo Tarcisio Bertone nos trabalhos.
"Queremos estar cientes do que está acontecendo no Vaticano, no conjunto da organização central da Igreja, que passou por turbulências nos últimos tempos', declarou a alguns jornalistas o cardeal francês Philippe Barbarin, ao sair da congregação matutina.
"Se quisermos fazer boas decisões, estou certo de que devemos ter algumas informações relacionadas a isto", acrescentou o cardeal sul-africano Wilfrid Napier, sobre o escândalo do VatiLeaks, em que documentos vazados revelaram intrigas e brigas de poder na Cúria.
"É uma jornada espiritual de que temos que participar. Vamos trocar informações", disse o cardeal indiano Baselios Cleemis Thottunkal, de 53 anos, o mais novo do conclave, antes do início da congregação. "É a primeira vez que participo; não sei o que vai acontecer. Vamos decidir juntos e analisar juntos as questões que a Igreja tem de enfrentar, como a Igreja vai enfrentar."
Questionado sobre se acha se o próximo Papa tem de ser italiano, ele afirmou que "a Igreja não é um continente, de uma língua. Ela é universal".
O arcebispo de Paris, André Vingt-Trois, disse que não dá para antecipar as questões que serão discutidas no conclave.
"Tem tanta coisa que é preciso que ele [o novo Papa] seja capaz de fazer, além de ser poliglota, de ser um homem de fé e de rezar, de ser capaz de compreender civilizações diferentes, de diálogo, de escuta...", disse, ao ser questionado sobre o perfil do novo pontífice.
O cardeal André afirmou que "não é indispensável" que o próximo Papa seja jovem.
O francês também disse que o próximo Papa terá de tratar da questão do VatiLeaks, escândalo de vazamento de documentos sigilosos do Vaticano.
André Vingt-Trois disse que "não necessariamente" quer ter acesso ao documento.
O arcebispo emérito de Sevilha, Carlos Amigo Vallejo, disse que o novo Papa deve "estar abraçado a Deus".
"Pode ser um latino-americano, todos os homens batizados podem ser Papa. Eu não estranharia se fosse um Papa negro, branco, latino, do Congo, em absoluto. A Igreja é universal, no sentido de que todos participam, é algo a que todos pertencem.”
O cardeal espanhol, ao ser questionado pelo VatiLeaks, disse que está pensando "nas comunidades em geral", e não nos "pequenos assuntos".
Data de início
As congregações começam quatro dias após a histórica renúncia de Bento XVI, que deu início ao período conhecido como Sé Vacante, em que a liderança da Igreja Católica fica desocupada.
Elas são realizadas na Sala dos Sínodos, um grande auditório localizado na Aula Paulo VI, no Vaticano.
Eles também definem a data de início da eleição.
Segundo o padre Lombardi, apenas quando todos os cardeais eleitores estiverem em Roma (menos aqueles que notificarem formalmente que não irão participar da eleição, dois até agora), será possível acertar a data em que o conclave será iniciado.
O blog Vatican Insider, do jornal italiano "La Stampa", afirma que a data provável do início do conclave é 11 de março, uma segunda-feira.
A Igreja espera ter um novo Papa antes das importantes celebrações da Páscoa, que começam no Domingo de Ramos, em 24 de março.
Temas
Alguns temas que devem ser abordados nas reuniões são a reforma da Cúria Romana (o governo da Igreja) e a investigação interna sobre o caso "VatiLeaks" (vazamento de documentos confidenciais do Vaticano), assim como os escândalos e polêmicas dos últimos anos: as acusações de acobertamento da pedofilia, a corrupção, a secularização em muitas regiões, a perda de fiéis para outras religiões e os problemas morais relacionados com a família.
Não há um favorito claro entre os 115 cardeais-eleitores -- os cardeais com até 80 anos de idade. Por isso, discretamente os participantes vão usar os encontros preliminares para avaliar potenciais candidatos.
Bento XVI encerrou na quinta-feira, 28 de fevereiro, seu complicado pontificado de oito anos prometendo obediência incondicional ao sucessor. Ele é o primeiro papa em quase seis séculos a deixar o cargo com vida, o que cria uma série de situações inéditas para a vida da Igreja.
Os conclaves estão entre as eleições mais misteriosas do mundo, sem candidatos declarados, sem campanha eleitoral explícita, e com eleitores que muitas vezes conhecem poucos dos seus colegas. Todos eles juram manter segredo sobre os detalhes da votação.
Tradicionalmente, os conclaves começam 15 dias depois da declaração de "Sé Vacante", o que inclui o tempo para o velório e sepultamento de um Papa que morre. Mas Bento XVI baixou um decreto, dias antes de renunciar, autorizando a antecipação do processo eleitoral.
Relatório secreto
Os cardeais não terão acesso a um relatório secreto que foi preparado para Bento XVI por três cardeais não-eleitores, no qual eles detalham casos de má-gestão e disputas internas na Curia Romana, a burocracia vaticana.
Mas os três autores do documento estarão nas congregações gerais e irão orientar os eleitores a respeito das suas conclusões.
Muitos cardeias querem receber informações sobre o relatório, segundo fonte ouvida pela agência Reuters.
No ano passado, três cardeais escreveram um relatório para Bento XVI sobre a crise na Cúria Romana, documento que será entregue ao novo Papa, mas não aos cardeais. Os três autores do relatório estão nas congregações gerais, mas não no conclave, por terem mais de 80 anos.
A fonte, um prelado com mais de 80, disse à Reuters que o relatório foi tema das discussões matinais, mas não deixou claro se o pedido de acesso às informações foi apresentado formalmente, nas conversas informais do café, ou em ambos os momentos.
Segundo o monsenhor Antônio Catelan, o dossiê não foi um assunto tratado neste primeiro dia de congregações.
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